* Piras de Varanasi. Em Inglês, Pyres of Varanasi é um ritual de cremação dos corpos realizado na Índia, próximo ao rio Ganges. Esse ritual é realizado a muitos anos e é de extrema importância para os indianos.
Com o lançamento do mais recente CD do Thirty Seconds to Mars (minha banda preferida como já postei aqui), LOVE LUST FAITH + DREAMS, muitos se depararam com a famosa faixa sete, Pyres of Varanasi, que foi gravada durante a viagem de Jared para a Índia. Então decidi procurar o ritual e seu significado e postar aqui.
A Tradição das Piras de Varanasi
"Um corpo queima numa pira funerária enquanto um ajudante alimenta a chama com toras de madeira para que esta não se apague. A fumaça é densa nos arredores do local do funeral. Olhos ardem e o ar é pesado por causa da madeira queimando, incenso e um aroma, para muitos perturbador, de carne assando. Para os acompanhantes do funeral, este é um sinal de que as almas daqueles que queimam estão indo para o céu."
Os largos degraus de pedra de Varanasi ficam localizados ao longo do leito do Rio Ganges, considerado sagrado na Índia. Há séculos, este local recebe pessoas que vem para rezar, meditar, tomar banho e, queimar os mortos. Apesar do aspecto sagrado, o lugar mais parece um movimentado mercado do que um local quieto para meditação. Acredita-se que, por dia, 200 corpos são cremados em Manikarnika, num procedimento que funciona 24 horas por dia, sem parar.
“Manikarnika Ghat” e “Harishchandra Ghat” são dois locais usados para as piras funerárias de Varanasi. Reza a lenda de que um antigo rei Hindu, Harishchandra (que mais tarde deu nome ao local) trabalhou nos locais de cremação depois que ele foi vendido para se tornar escravo. Hoje em dia, os membros da casta dos intocáveis são os responsáveis por cuidar das piras, alguns dizem que este trabalho é tão desprezível que, quando uma criança nasce nestas famílias, seus pais choram porém, quando um deles morre, há uma grande celebração, porque significa que esta pessoa foi libertada de seus terríveis afazeres. Apesar desse trabalho ‘ingrato’, esta casta prosperou neste ‘negócio’ e hoje domina o mercado de funerais na Índia, ninguém pode ser cremado se não pagar a eles pelo serviço, muitos acreditam que existam milionários neste ramo.
Para aqueles que não se recordam da casta dos intocáveis, durante a novela “Caminho das Índias”, o personagem de Márcio Garcia interpretava o papel de um dos descendentes desta casta, que é hereditária. Tal organização social, mantida pelos Hindus, ainda tem grande participação em determinadas regiões da Índia, porém, cada cultura tem sua própria segregação. No geral, as pessoas são classificadas pela descendência delas dentro de quatro “varnas” ou, o quão puro é o espírito delas, a mais alta os “Brahmins” (considerados os padres ou sacerdotes) e os mais baixos, os intocáveis (geralmente pessoas ligadas a trabalhos ‘sujo’ como lidar com lixo e corpos). O sistema, cabe dizer, é extremamente rígido e só permite casamentos entre pessoas de mesma casta. Se uma pessoa nasce dentro de uma casta morrerá nela, pois acredita-se que ele/ela veio para a Terra para cumprir aquela função que foi definida por Krishna, considerado o Deus dos Hindus.
A tradição da cremação em Varanasi surgiu da crença Hindu de que todo aquele que for submerso no sagrado rio Ganges depois de sua morte terá uma boa vida após a morte, até mesmo celebridades ocidentais como George Harrison queriam ter suas cinzas jogadas aqui. Este lugar também é considerado auspicioso para a morte, pois todos que são banhados ou que tem apenas as águas do rio Ganges respingadas em seus corpos, na hora de sua morte serão libertados do chamado ciclo da vida e da morte e poderão morar no paraíso para todo o sempre.
O primeiro passo para se queimar seu ente querido nos degraus é escolher o tipo do funeral. O preço que os parentes e amigos podem pagar determinará a quantidade de madeira e o quanto de sândalo (tipo de madeira) serão necessários, bem como a quantidade e qualidade de outros itens usados para a cremação como “Ghee” (manteiga clarificada que é dada como oferenda), palha e serviços religiosos. Um funeral decente pode custar entre US$ 12 até US$ 72 dólares (R$ 24 até R$ 144 reais aproximadamente), mas os custos podem ter grandes variações. Famílias pobres podem ser capazes de comprar pequenas borrifadas de pó de sândalo, enquanto famílias ricas podem pagar por piras inteiras de madeira nobre.
Para aqueles que podem pagar, os corpos são enrolados em panos feitos de ouro e prata, como os Hindus veem a morte como uma ocasião de celebração – porque o falecido felizmente partiu para uma reencarnação melhor ou até o céu – a procissão que acompanha o corpo deve estar animada e solene. Chorar em um desses funerais é desencorajado – parte porque tal evento não é visto simplesmente (se não completamente) como uma ocasião triste e também porque fluidos corporais, como lágrimas, são considerados ‘poluentes’ durante rituais religiosos. Por esse motivo, mulheres são tradicionalmente barradas em tais funerais, deixando o trabalho de lamentação para os homens.
Antes de colocar o corpo na pira (agora envolto em um pano branco), os parentes mergulham o corpo rapidamente no rio Ganges e espalham a “Ghee” sobre o corpo – este último por motivos religiosos e possivelmente para ajudar a queimar o corpo mais rapidamente. Homens são geralmente colocados com o rosto virado para cima, enquanto as mulheres são cremadas com a face virada para a pira.
O filho mais velho ou parente masculino escolhido para essa função deve acender a pira, começando pelo local perto da boca, sendo que a chama deve ser acesa a partir de um templo próximo. Neste momento, os trabalhadores da casta dos intocáveis começam a preencher a pira com mais palha e “Ghee”, colocando mastros para sustentar o corpo quando necessário. Um corpo demora cerca de três horas e meia para virar cinzas, se tudo correr bem, o crânio do ente querido explodirá por causa do calor, para os Hindus isso é um sinal de que a alma foi para o céu. Caso isso não aconteça, fica a cargo do encarregado de cuidar do funeral de quebrar o crânio ele mesmo quanto o fogo se extingue. Depois da cremação, quaisquer ossos que sobraram (por algum motivo o osso do quadril da mulher e o osso esterno – é assim que se escreve – do homem) são jogados no rio.
Algumas vezes, pessoas mais pobres não conseguem pagar a madeira necessária para pagar a cremação, nestes casos, as partes carbonizadas são mergulhadas no rio junto com as cinzas. Certas pessoas, como crianças, mulheres grávidas e alguns homens com títulos sagrados, não são cremados, apenas tem seus corpos submergidos com pedras amarradas em seus membros, o que faz com que aqueles que se banham no rio e até mesmo turistas vejam corpos flutuando no rio. Uma das soluções adotadas para este problema foi trazer tartarugas para que elas comessem os corpos ou as partes que sobravam deles, mas isso não funcionou, porque ainda é possível ver partes de corpos flutuando ao longo do rio.
Além das partes de corpos no rio, existem problemas ambientais associados a este ritual, primeiramente, estas piras precisam de muita madeira para alimentar a chama, cerca de 300 kg são usados para queimar um corpo, multiplicando por 10 mil, número estimado de pessoas que são queimadas a cada ano, não é preciso imaginar o por que não existem florestas perto de Varanasi.
O governo chegou a tentar resolver este problema nos anos 90 ao construir crematórios elétricos perto do Ganges, porém, como os costumes religiosos são difíceis de mudar, muitas pessoas ainda preferem serem queimadas no que diz a tradição. Além disso, o próprio rio Ganges tornou-se impróprio para o banho, além de possuir um alto nível de coliformes fecais e bactérias em suas águas. É altamente desaconselhável sequer entrar nas águas, mas muitas pessoas ingerem a mesma por considerá-la sagrada, o que se torna um problema também de saúde pública.
O ritual da Piras de Varanasi é definitivamente uma das grandes tradições da Índia, que divide espaço com o moderno e o antigo. Apesar de parecer macabro, este é um ritual milenar Hindu que vê a morte como um momento de celebração além de ser aberto ao público, que deve demonstrar respeito ao ingressar a região, mulheres porém não são autorizadas a circular pelo local. Interessante notar que o Jared deu o nome de uma música de seus álbuns a esse ritual que muito provavelmente deve ter um grande significado para ele. A pergunta que não quer calar é: Será que entre os últimos pedidos do Jared após a sua morte está esse tipo de sepultamento?
http://echelonbrazil.com.br/ #30SecondsToMars #PyresOfVaranasi #LoveLustFaith+Dreams #JaredLeto
